Jenfs Fotografia. |
O primeiro MEDIOPIRA DE
2017 traz uma entrevista muito especial com uma das artistas mais promissoras
dos últimos anos: a itabirana Maíra Baldaia. Embora jovem, Maíra se preparou
como ninguém, fez teatro, estudou muito, interagiu com meio mundo e seu CD de estreia
lançado no final de 2016 figura certamente entre os melhores lançamentos dos
últimos anos. Quem me vê falando assim
pensa que estou exagerando, mas não estou mesmo. As letras, as músicas, os arranjos , tudo é
cativante no som dessa itabirana. Portanto, meus amigos: fiquem atentos. Se ela
se apresentar perto de vocês, não percam.
Vocês podem estar diante da próxima estrela da MPB. Bagagem pra isso ela
tem. Mas vamos à entrevista...
MEDIOPIRA - Quais são as suas influencias
primordiais, os sons que ouvia na infância?
MAÍRA BALDAIA - Tenho
muitas influências, pois desde muito nova estive em contato com diversos sons
por incentivo dos meus pais. Voltando um pouco na memória chego aos discos que
mais ouvi quando pequena, entre eles o álbum Circuladô Vivo do Caetano Veloso,
ao álbum Monjolear do Dércio Marques e Doroty Marques, ao Sá Rainha da Titane,
ao Bisnetos da Família Alcântara Coral Afro. E daí em diante vão se somando
várias influências sonoras sejam artísticas ou despertadas por vivências no
candomblé/ umbanda, vivências em uma cidade do interior repleta de poesia e
ludicidade ou na capital repleta de informações e diversidades. Tudo está à
nossa volta, a natureza é uma grande inspiração, as paisagens, as estradas, as
fases do sol e da lua. Há música em tudo!
MEDIOPIRA - Como foi a sua trajetória na musica?
MAÍRA BALDAIA - Minha
trajetória artística sempre veio traçando um paralelo entre a música e o
teatro. Fiz minha primeira participação na música ainda criança gravando no CD
Nem Tudo É Verdade do Tony Primo em 1994, lembro que fizemos shows no Rio de
janeiro e em Itabira por ocasião do lançamento. Na infância a minha brincadeira
preferida era compor, eu tinha um gravador de fitas e ficava criando músicas
para depois ouvir. Aos 12 entrei para o teatro, onde redescobri o canto junto a
um trabalho cênico e corporal. Mais tarde aos 14 anos eu tive a minha primeira
banda de rock autoral ao lado dos amigos João Jardel, Rodrigo e Marina. Foi
muito bacana essa fase e o exercício da composição estava presente mais uma
vez. Aos 16 fui estudar teatro no Galpão
Cine Horto e depois com o Grupo Ponto de Partida. Também aos 16 integrava o
projeto Mineirada e fiz shows em Minas Gerais e Portugal. Comecei a trabalhar
aos 17 no projeto Meninos de Minas que foi uma grande influência na minha
música, trazendo os ritmos afro mineiros e me aproximando de Maurício Tizumba
com quem passei a trabalhar no Grupo Tambor Mineiro e em espetáculos como “Galanga, Chico Rei” de Paulo César Pinheiro com direção de João das Neves e
direção musical de Titane. Em 2010 comecei a apresentar em shows o meu trabalho
autoral com os shows Flor do Dia e Prosa de Gangas. Em 2012 participei como
cantora e compositora do show “Sins – Brasil e Portugal” com direção musical e
participação do maestro Jaime Alem. Me formei em Canto na Bituca – Universidade
de Música Popular em 2011 e em Teatro na Escola de Belas Artes da UFMG em 2016.
De 2006 a 2016, me apresento no meio do ano em Portugal seja com projetos de
Cleber Camargo ou com o meu trabalho autoral. Atualmente integro o Grupo
Dingoma, o Grupo Tambor Mineiro, faço parte da enRede – Rede Internacional de Municípios
pela Cultura e estou em circulação com
meu primeiro disco “POENTE e outras paisagens” lançando em dezembro de 2016.
MAÍRA BALDAIA Baldaia não
é meu nome de registro, mas pertence à minha família. A minha Bisavó se chamava
Maria da Rocha Baldaia e eu quis trazer essa raiz para mais perto de mim adotando
seu sobrenome.
MEDIOPIRA - Você começou meio moleca, cabelão meio sarará e hoje exibe
um visual mais enxuto, de cabelos curtos, realçando o rosto. Você compõe os
personagens (alma camaleoa) ou esses personagens emergem de forma natural?
Crédito foto: Isabela Guerra |
Créditos foto: Paulo Abreu |
MEDIOPIRA - É claro que a gente percebe no seu som a ancestralidade dos
tambores negros , mas também senti uma coisa mais contemporânea meio
blues urbano. Estou enganado?
MAÍRA BALDAIA - Sim, meu
trabalho mistura várias referências. É uma profusão de cores por assim dizer,
tem congado, tem jazz, tem blues, tem samba. Acaba sendo definido como música
popular brasileira, mas sobretudo como uma música do mundo.
MEDIOPIRA - No seu novo CD, você demonstra que é bem mais que uma
cantora bonita. Poente é uma letra muito boa. Seu disco tem outras letras
também cheias de achados poéticos. Você acha que letra de música é poesia?
MAÍRA BALDAIA - Sim, pelo
menos pra mim a música e a poesia estão totalmente ligadas. Gosto muito de
escrever, algumas das músicas nascem primeiramente na poesia e só depois ganham
melodias. As minhas músicas trazem o lugar de enunciação da mulher, sobretudo da
mulher negra. Falam do nosso cotidiano, das alegrias, das tristezas, dos
amores, das lutas, dos olhares sobre o mundo. que Eu não estou sozinha nessa
estrada, tem diversas mulheres na composição mostrando suas vozes, quebrando
padrões e mostrando através de suas canções que temos trabalhos potentes e de
qualidade.
MEDIOPIRA - Você saiu de Itabira e mudou-se pra BH.
O que você levou de Itabira pra BH e o que leva de BH pra Itabira?
MAÍRA BALDAIA - Me mudei
de Itabira com 16 para 17 anos para buscar em Belo Horizonte estudo, trabalhos,
contatos na arte. Nisso acabei ganhando grandes parcerias de arte e de vida. De
Itabira veio toda poesia que corre em minhas veias, todas as minhas primeiras
experiências na arte e, principalmente, um olhar sensível ao entorno. Isso me
acompanha sempre. Em BH desenvolvi esse olhar sensível, me formei e comecei de
fato a viver de arte, um caminho difícil, mas do qual não consigo me ver sem.
Os aprendizados vividos nas duas cidades permanecem comigo em trânsito, estou
sempre nessa ponte entre a capital e a cidade natal.
Foto: Pedro Viotti. |
MEDIOPIRA - Pesquisei um pouco e vi que vc tem uma forte ligação com os
movimentos negros, principalmente com a religiosidade. Isso continua fazendo
parte da sua vida?
MAÍRA BALDAIA - Sim, isso
está totalmente ligado à minha vida. Acredito na força da coletividade que
aprendemos com nossos ancestrais.Eu caminho para ser melhor dentro de um todo.
Eu luto através da arte e do amor para que sejamos todos iguais, cada um com
suas particularidades, mas com direitos na mesma medida. E quanto à
religiosidade, está tudo aí na natureza, as forças que precisamos estão a nossa
volta, a proteção que acredito vem de algo maior e ancestral.
MEDIOPIRA - Seu CD faz uma ponte entre o passado e o presente, promove o
diálogo do tambor com a guitarra elétrica e o som ficou bem orgânico. Foi você
quem produziu, escolheu repertório e roteiro?
MAÍRA BALDAIA -Esse
paralelo entre o ancestral e contemporâneo é presente no meu disco por ser
também presente na minha vida. Está tudo ligado, eu como ser que vive as
questões de uma sociedade pós-moderna conto com um olhar aprofundado nas raízes
e nas tradições orais. Trago aprendizados que vem das mulheres matriarcas da
minha família e também que vem da minha irmã mais nova. Tudo é uma coisa só e
reflete no meu trabalho enquanto estética, conceito, estilo. Sim, eu assino a
direção artística desse disco, eu produzi e escolhi o roteiro que traça uma
dramaturgia que vai do amanhecer ao anoitecer, mas tive a direção musical
generosa e extremamente necessária do Clayton Neri. Além da direção do Clayton,
tenho ao meu lado as musicistas Débora Costa, Larissa Horta e Verônica Zanella
que dividem comigo esse fazer, pensando, se envolvendo e criando juntas esse
filho chamado “POENTE e outras paisagens”.
Os arranjos são assinados por Verônica Zanella, Clayton Neri e Alysson
Salvador.
MEDIOPIRA - No disco vc teve a presença de músicos especialmente
convidados. E tem os músicos parceiros habituais que lhe acompanham nos shows.
Quem seriam esses músicos?
(Créditos da foto: Tásia d'Paula) |
MEDIOPIRA - Principalmente na música “Ensaio sobre o amanhecer” o clarinete
tem uma importância enorme, assim como a cuíca, não só pela execução mas pela presença. O que inspirou essa música?
Foto: Larissa Horta |
MEDIOPIRA - As fotos para o CD foram capítulos à parte. De quem foi a concepção visual? Onde foram feitas as fotos?
MEDIOPIRA - Você lança seu CD num momento em que o mercado anda
meio avesso aos trabalhos autorais. Os promotores de shows e até de espaços
culturais e bares dão preferência a música cover, principalmente do gênero sertanejo.
Como você pretende fazer pra driblar essa preguiça mental e essa resistência ao
novo?
MAÍRA BALDAIA - Bom, não
pretendo driblar o mercado, pretendo continuar espalhando a minha arte por onde
for. Não sei se o percebo tão avesso assim ao trabalho autoral, apesar de ter
noção de que o meu disco não está necessariamente inserido em determinados
padrões, mas tem um cenário muito interessante da música independente que
cresce cada vez mais no Brasil. A resistência e as dificuldades sempre estarão
postas à nossa frente, nos resta caminhar e trabalhar para que nossa música
chegue às pessoas. Apresento um trabalho com muita verdade, um trabalho
autoral, um trabalho independente que fala por si, aonde chegarei com ele ainda
não sei, mas se eu conseguir tocar as pessoas que ouvirem ao ponto delas também
desejarem “espalhar essa palavra” para outras pessoas já está iniciada a rede.
Acredito nas conexões.
MEDIOPIRA - Além do seu projeto do CD, você tem trabalhos paralelos.
Fale um pouco sobre esses projetos e parcerias.
MAÍRA BALDAIA - Além do
meu trabalho autoral, eu toco nos grupos Tambor Mineiro e Dingoma, sendo também
atriz e arte educadora. Também dialogo de forma mais intimista com a poesia,
com o cinema e com a pintura.
MEDIOPIRA - Quem quiser contratar o seu show tem de falar com quem?
Deixe seus contatos pro pessoal.
Foto: Carol Reis |
MAÍRA BALDAIA - Quem
quiser contratar o show pode entrar em contato com a nossa produção através do
e-mail contatomairabaldaia@gmail.com
. Será um prazer levar esse pôr-do-sol para outros cantos.
Foto: Larissa Horta |
MEDIOPIRA - Quem quiser adquirir o seu belíssimo CD tem de fazer o que?
Onde tem pro pessoal que não puder adquirir poder conhecer seu trabalho?
MAÍRA BALDAIA - Para
adquirir o CD físico basta entrar no site www.mairabaldaia.wixsite.com/baldaia
e na aba POENTE encontrará todas as orientações. Também pode nos enviar
mensagem na página do facebook (facebook.com/mairabaldaiafanpage). Além disso,
o disco está disponível no meu canal no YouTube https://www.youtube.com/watch?v=VLAF0OZfwLI e no Soundcloud, se inscreva no
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