sexta-feira, 29 de setembro de 2017

MARCOS MARTINO ENTREVISTADO PELO MEDIOPIRA

O MEDIOPIRA dessa semana conversou com o compositor, músico e jinglista multitarefas Marcos Martino. Ele já viveu um monte de aventuras. Foi integrante do Grupo Verde Terra, que ganhou muitos festivais em sua época. Depois integrou a banda de Rock República dos Anjos. Hoje transita entre a arte e a publicidade. Produz jingles e spots, trilhas, textos publicitários, é promotor cultural, roteirista e produtor de vídeos. Já foi também assessor de comunicação e Presidente da Fundação Casa de Cultura de João Monlevade. Mas o pessoal deve estar perguntando: - Como assim  entrevistando a si mesmo? Uai ! fiquei com inveja dos entrevistados e resolvi me auto-entrevistar. Espero que gostem...

MEDIOPIRA - Você já viveu uma época em que havia mais valorização da arte e cultura. O que aconteceu pra mudar tão radicalmente?


Marcos Martino - Eu acho que foi por causa da política. Desde o governo Collor começou a haver um esforço em valorizar tudo que fosse extremamente popular, uma simplificação de tudo. Cunhou-se uma cultura do povão. Newton Cardoso seguiu a cartilha em Minas. Pra começar, transformou a rádio Brasileiríssima em Popularíssima e na época tirou a MPB do ar e colocou só pagode e sertanejo. Mas não foi um fenômeno isolado. A tendência foi se espalhando até tomar conta de tudo e virar um padrão.

MEDIOPIRA - Mas essa opção não foi do povo, das pessoas?

Marcos Martino - Não sei. Há quem diga que o nosso congresso espelha o nosso povo. Eu acho que é o contrário. As pessoas seguem os modelos. Se os políticos roubam lá em cima, o povo acha que também pode roubar cá embaixo. Os políticos são modelos de comportamento e um vai espelhando o outro. A mídia, as novelas, também ajudam. O que os governos e a mídia disseminam viram comportamentos. E nos últimos anos tivemos uma espécie de elogio à ignorância. Tem mais valor o tipo  simples e bronco sem sensibilidade para a arte. 

MEDIOPIRA - Não faz tanto tempo assim, tínhamos festivais de música pra todo lado. O que aconteceu para que quase acabassem?

Marcos Martino - Talvez por causa dessa "popularização" da cultura. As prefeituras e empresas  preferiram direcionar suas verbas para eventos de massa, principalmente rodeios e exposições agropecuários. Ainda existem eventos de resistência, mas que vem tendo problemas para atrair público . Será que o povo só quer os popularescos? Mas aí é que tá: existem os nichos ... 

MEDIOPIRA - Mas você fala sobre de forma depreciativa dos eventos agropecuários. Não estaria de implicância com a música sertaneja?

Marcos Martino - De modo algum. Não tenho nada contra o estilo, nem contra a indústria que nasceu em torno. Até gosto bastante de algumas músicas. Ruim mesmo é a monocultura. Mas já teve o tempo do axé, do pagode, do funk, do Rock Brasil...até da MPB. Mas nada tão duradouro como a música sertaneja.

MEDIOPIRA - Como foi a sua experiência tendo banda de rock e de festivais?


Marcos Martino - O Verde Terra foi um grupo festivaleiro clássico. Havia um circuito interessante. O República dos Anjos também foi uma fase bárbara. Conseguimos tocar em centenas de rádios e fizemos muitos shows.

MEDIOPIRA - E não tem mais lugar mais pra música autoral?

Marcos Martino - Lugar sempre tem. Mas apesar dos avanços tecnológicos e de estarmos online 24 horas,  ficou mais difícil fazer com que as músicas cheguem até as pessoas. Isso por causa da quantidade e até pela qualidade que ficou acessível a todos. Hoje vc pode criar um canal no youtube, fazer  uma TV, uma rádio própria. E tem muita gente fazendo música boa. Mas ... convencer as pessoas a assistirem e se inscreverem em seu canal é outra história. E na internet as pessoas visualizam mas não retém. Nas rádios as músicas ficavam nas memórias por causa da repetição.

MEDIOPIRA - E as rádios? Estão se atualizando ou ainda estão na idade das cavernas?


Marcos Martino - As que insistirem em fórmulas arcaicas vão ter dificuldades. A maioria tá partindo para o conceito das talk radios. São rádios faladas, conversadas, de interação com o ouvinte. A música deixou de ser o principal produto. Além do mais, todo mundo pode ouvir a música favorita seja baixando, seja ouvindo no spotfy e outros canais on line.

MEDIOPIRA - E você está parado ou compondo?


Marcos Martino - Eu nunca estou parado. Tô sempre realizando alguma coisa, quase sempre envolvendo música e vídeo. Continuo compondo, pois compor é quase uma seção de desencapetamento. A gente coloca pra fora o que nos perturba.

MEDIOPIRA - Mas não tem planos para apresentações?

Marcos Martino - Tenho  projetos sim que estou pensando em realizar, um de uma nova banda de rock. Tenho um bocado de composições novas, bem no espírito rockeiro. E outros projetos de singles também. Vamos ver se a vida me dá tempo pra realizar.

MEDIOPIRA - Mas não se acha velho pra isso?

Marcos Martino - Velho é um conceito. A essa altura do campeonato não vou tentar ficar fazendo música pros "novinhos". Se fosse fazer isso, talvez me dedicasse ao funk. É o que a galera nova tá ouvindo.

MEDIOPIRA - Por falar nisso, o que acha do funk?

Marcos Martino - Um ritmo como qualquer outro. Acho engraçado os rockeiros que já quiseram mudar o mundo ficarem nessa de criticar os funkeiros. O slogan do rock era SEXO, DROGAS E ROCK AND ROLL.   O Funk é o ritmo que tá fazendo a cabeça da galera, queiramos ou não.

MEDIOPIRA - Pra onde vai a música?

Marcos Martino - Vai pra nuvem. Aliás, já está lá. As memórias musicais de todo o planeta deve estar na nuvem hoje. Da cultura Esquimó à Aborígene.  Não tem outro caminho. Todos precisam aprender a se virar na nuvem.

MEDIOPIRA - Fora a música, que outros projetos você pretende tocar no médio prazo?

Marcos Martino - Ah...pois é. Estou lançando um canal no youtube chamado NAVTRINE, em que vou trabalhar pra divulgar trabalhos novos, uma coisa que me motiva muito. Mas tenho vários projetos em andamento. Projetos ambientais,  produção musical, produção de festivais e de vídeos.

MEDIOPIRA - E o que vc aconselha pro pessoal da música de hoje?

Marcos Martino - Meu conselho é simples: PROFISSIONALISMO EM TUDO. Se vc for fazer um play list de repertório, pense no quando vai entreter as pessoas, no bem que pode fazer com a sua música. Mentalize e mande bala. Quando for gravar um clip, a mesma coisa. Mesmo que for gravar com celular, preocupe-se com a imagem. É muita gente que vai ver. Então capriche. Fale pro pessoal da banda também ter comportamento profissional, conversar com a câmera.

MEDIOPIRA - Covers ou autorais?


Os Morcegos, ótima banda cover da Jovem Guarda.
Marcos Martino - Por que não os dois? Algumas pessoas ficam impacientes quando só ouvem músicas novas num show. Então, se a banda entremear pode ser melhor pra estabelecer um link  rápido com a platéia. Mas, se o artista for capaz de segurar a onda só com próprias, se suas músicas  forem de fácil assimilação apesar de autorais, por que não? O artista tem de ter bom senso. Quanto aos covers, funciona assim desde o início do pop. Nos anos 60 e 70 toda cidade tinha seu conjuntinho de igreja ou colégio que se dedicava a fazer cover dos beatles e da jovem guarda. Eram valorizados os músicos que fizessem igualzinho o original.                                                                
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