Algumas cidades valorizam seus
notáveis. Itabira faz isso muito bem
com Carlos Drummond de Andrade. Tudo em Itabira tem Drummond
no meio.
Alguns intelectuais locais
até criticam a drummomania, mas não tem jeito!
Tem estátuas pra todo lado,
frases, outdoors, placas de inauguração, bonecos, esculturas, tudo tem
Drummond.
Recentemente o Brasil
inteiro comemorou 115 anos do poeta e como não poderia deixar de ser, Itabira
festejou Drummond a semana inteira, com muita poesia e arte. E comemoram todos
os anos, todos os dias, a todo minuto.
Itabira tem orgulho do seu
filho mais ilustre e não se cansa de homenageá-lo. E isso é lindo, pois numa
terra onde surgiu a Vale do Rio Doce, o principal produto de exportação é a
poesia, a palavra.
E João Monlevade? Parece que a cidade não dá a
mesma importância ao legado do pioneiro fundador, o francês Jean Monlevade.
Ele não é nativo como Drummond, mas foi tão importante que até emprestou nome à cidade. Como disse o
jornalista e escritor Erivelton Braz, "aqui Jean virou João".
Num ano em que
completaram-se 200 anos da sua chegada à região, muitas coisas foram projetadas,
mas por enquanto foram tímidas as ações.
Houve o lançamento de um
selo comemorativo e reuniões com intelectuais e autoridades públicas para
criação de uma agenda. Ficou definido o biênio 2017/2018 para diversas
atividades. Mas para o ano do bicentenário foram poucas as ações. Tá certo que 2017
ainda não acabou, mas fica difícil rivalizar com Papai Noel e revellion em
atenção.
O jornalista Erivelton Braz,
apaixonado pela saga do desbravador é fez algo pra marcar os 200 anos. Escreveu
um belo poema sobre o Jean, que tive a honra de musicar. A música acabou nos
inspirando um vídeo-clip comemorativo, que teve mais de 20 mil visualizações no
facebook. O Erivelton aproveitou pra lançar NAS TERRAS PESADAS DE METAIS E
ESPANTOS, um ebook com história romanceada do grande pioneiro, disponibilizado
gratuitamente na internet. Para a execução do projeto, tivemos as parcerias da Arcelor
Mittal, SICOOB CREDIMEPI, HIPER COMERCIAL MONLEVADE, CDL, PROHETEL, REAL CLUBE
E RÁDIO ALTERNATIVA.
O poeta Geraldo Magela Ferreira,
o Magelinha, também lançou belíssimo poema em homenagem ao bicentenário.
E foi só.
O francês foi um gigante,
sonhador e realizador poderoso. Moveu céus e terras, trouxe
uma indústria inteira transportada
através dos rios e montanhas, em balsas e lombos de burro, da costa brasileira
até onde hoje está localizada a Fazenda Solar. Criou uma indústria monumental
num lugar quase selvagem e ao derredor nasceu uma das cidades mais importantes
de Minas. Mas...engraçado! Parece que
o João não gosta do Jean.
Fiquei sabendo de umas
maledicências históricas. A primeira de que Jean foi um capitalista cujo único
objetivo era enriquecer, que não teve nenhuma atitude altruísta ou amor à terra
e sua gente. Outra história é de que foi um mal patrão.Tem gente que não gosta
dos patrões. Acham que são todos exploradores desalmados. Ah...e também tem aqueles
que dizem que foi feitor de escravos e
se aproveitava das mulheres. E a mais surreal de todas: de que ele era um
forasteiro como tantos que só vem pra explorar.
E o empreendedor nato? Onde
fica? E o gestor com visão excepcional e grande capacidade de realização? Parece
vir de muito tempo essa tendência em diminuir os pares, esses espíritos de
língua ferina prontos pra difamar quem tenta fazer alguma coisa ao invés de
enlevar, de glorificar seus notáveis.
Se foi vilão ou herói, depende
de como a história é contada.
Stalin matou milhões, mas é
herói pra muita gente, assim como Fidel, Hitler, Lampião, Kennedy e outras
personas.
Jean não foi poeta nem
ergueu castelos de palavras.
Também não transformou
chumbo em ouro, mas minério de ferro em aço, uma região selvagem em um fabuloso
complexo siderúrgico...e a minha vida, a sua e a de todos no Médio Piracicaba.
(Além do ebook do Erivelton,
sugiro as leituras dos livros de Jairo Martins e de Afonso Jr. Os livros do Jairo são fantásticos e do
Erivelton também. O Livro do Afonso ainda não li, mas quero fazê-lo assim que
possível. São visões diferentes sobre o mesmo tema que ajudam a compreender o
mito. Jacqueline Silvério deve ter na República Literária).